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viagem
S
ou despertado de madrugada por ruídos ali do
lado de fora, afasto a cabeça do travesseiro para
ouvir melhor e claramente os roncos de um bando
de leões que soam nas proximidades. Pelo volume, estão
no bebedouro localizado a uns cem metros do acampa-
mento. O som ecoa pelo silêncio da noite e o próprio ar
parece vibrar com o súbito início desse concerto noturno
e inconfundível. Na verdade, esses sons são a própria voz
da África e cedo ou tarde o turista que visita as regiões
selvagens africanas terá a oportunidade de ouvi-lo. Dou
uma espiada pela porta da barraca e a escuridão é total, o
frio glacial. Estamos no parque Nacional de Etosha, mais
precisamente no resort de Okaukuejo, onde há um hotel,
área de camping e toda a infraestrutura necessária ao con-
forto de milhares de turistas que aportam ali diariamente.
Essa imensa reserva está localizada no norte da Namíbia,
país africano que estende sua costa entre Angola e África
do Sul e abrange uma área de 22 mil quilômetros quadra-
dos – quase metade do Estado do Rio. É a terceira maior
reserva de toda a África e ganhou seu status em 1907,
por ordem de Friedrich von Lindequist, então governa-
dor dessa antiga colônia alemã. Em seus tempos áureos,
Etosha chegou a ser a maior reserva de vida selvagem do
mundo, eram inacreditáveis 93 mil quilômetros quadra-
dos. Pressões políticas na era do apartheid fizeram com
que algumas medidas antiecológicas fossem tomadas e
o local viu sua área encolher para um quinto da original.
O turismo é visto hoje em dia como um sério aliado às
pretensões de desenvolvimento do país, sendo o respon-
sável pela terceira maior fonte de divisas, atrás apenas da
mineração e da pesca. Pode-se notar claramente isso pela
quantidade de turistas circulando por toda parte nos re-
sorts, todos de câmera a tiracolo e roupas de safári de cor
cáqui recém-compradas, como um grupo de Livingstones
dos tempos modernos. A ordem do dia é a de animais
pela manhã, animais à tarde e mais animais à noite. O vi-
sitante dorme e acorda pensando nos animais e o envolvi-
mento é total. Quem nunca sonhou em fazer um safári na
África, inspirado desde a mais tenra infância pelos filmes
de Tarzan e Daktaris da vida?
Etosha é um autêntico símbolo de uma política conserva-
cionista de vanguarda e considerada como a joia das áreas
de preservação da Namíbia, que destina 15% de sua área
total à proteção da vida selvagem. Etosha, esse estranho
nome, na verdade significa “grande lugar branco” e basta
olhar para as grandes extensões chamadas de “Pan”, que
mais se assemelham a um extenso deserto de sal, e se verá
que o nome faz jus à paisagem.
Entardecer em Etosha
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