MAGAZINE CASASHOPPING
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Q
uero falar do tradicional PF, prato
feito, que geralmente por ser de
preço mais acessível, é bastante
apreciado e consumido em restaurantes e
bares (às vezes suspeitos). Mas esse prato,
aparentemente simples, tem um segredo
para aqueles que querem comer bem, e
não apenas comer muito. Fora as questões
básicas de qualidade da comida, inerentes à
qualquer culinária, o sucesso de um PF para
mim está nas proporções.
Explico...
Pense num PF básico, um picadinho. Com
arroz, feijão, farofa, couve e bananinha (e
às vezes um ovo pochê para arrematar). Em
alguns lugares, ele vem em proporções ab-
solutamente erradas – uma montanha de
arroz, uma montanha de picadinho, um ti-
quinho de feijão, meio tiquinho de farofa
– complica tudo! Você quer um pouquinho
mais de feijão, e cadê? – fica aquele arroz
pedindo um caldinho, e nada. Um pouqui-
nho mais de farofa, que você fica raspando
no prato, em claro desrespeito às normas
da elegância. Você começa comendo um
prato completo, e termina comendo arroz
com carne, em suma. Eu gosto de ter um
prato completo do começo ao fim. Não,
não estou pregando a quantidade, que às
vezes é exagerada. E obviamente não estou
falando do PF do bar da esquina, mas sim
de restaurantes que, se não estão no toplist
dos conhecedores, ao menos fazem seu
trabalho direitinho.
No começo da semana eu estava pensan-
do nisso, enquanto me encaminhava para o
almoço. Qual seria a minha proporção ade-
quada de um PF que contenha proteínas,
algum carboidrato, legumes e uma farinha
para dar um
terroir
? Cheguei à seguinte
conclusão: quando passei em frente a um
restaurante bem próximo à minha loja. O
cardápio do dia exibia três pratos (fora o
menu habitual) – risoto de frutos do mar,
frango com couscous marroquino e picadi-
nho com aipim. Parei o carro imediatamen-
te, mudando meu roteiro e fui conferir se
minhas ideias quanto às proporções do PF
estavam certas.
Em primeiro lugar, esse restaurante não é
badalado, do ponto de vista gastronômico,
mas faz uma culinária muito caprichada,
tudo muito bem temperado, com ótimos
pratos do dia. O serviço é atencioso, os
donos simpaticíssimos, e ao sentar já ti-
nha meu pedido feito. Enquanto recusava
o couvert (a cintura não permite couvert
e PF...), tentei fazer um gráfico/fórmula da
perfeição matemática desse prato (em um
smartphone, o que para mim seria um fei-
to). Mas eis que chega o prato, que não
deu nem tempo de fotografar, pois eu es-
tava morto de fome. Este consistia em uma
porção generosa de arroz, uma cumbuqui-
nha de feijão muito bem feito, uma porção
de tamanho preciso de um picadinho de
filé com cubos macios de mandioca sob
um molho que denotava a tempo e paci-
ência, um montinho de farofa (um pou-
quinho maior do que o necessário para o
perfeito equilíbrio das proporções por mim
apregoadas) amarelinha muito bem tempe-
rada, uma salada de tomates com cebolas
curtidas no azeite – adoro cebolas, mesmo
no almoço... tudo perfeito, saboroso, sem
exageros. Tinha espaços em branco no pra-
to, para não ficar aquele tumulto, aquela
PF perfeito
O mistério do
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