MAGAZINE CASASHOPPING
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Zaha queria inicialmente uma mesa, mas Gareth deseja-
va desenhar algo que refletisse as linhas fluidas do estilo
da arquiteta. “Pensei, então, em objetos que falassem de
água”. Surgiu assim a silhueta puríssima das urnas em
carvalho, que parecem ter sido encontradas nas escava-
ções de um antigo palácio grego. Apesar de ser apaixona-
do pelo trabalho feito à mão, Gareth Neal usa também a
tecnologia CVC, um torno de controle numérico capaz de
memorizar e executar formas. Com ele, o designer escul-
piu, por exemplo, a superfície retilínea de móveis, como
a cômoda George III para, em seguida, esculpir à mão os
efeitos de erosão e a antiga silhueta da cômoda.
O designer conversou por telefone conosco e contou
que nunca veio ao Brasil, mas conhece a música de Jorge
Ben Jor. Ele fala aqui dos projetos e das origens de um
trabalho que nos faz viajar pela história dos objetos numa
nave de formas arrojadas e modernas.
Em que projetos você está trabalhando no momento?
Estou fazendo novas peças experimentais que espero expor
na Design Miami em dezembro. Preparo também uma linha
comercial de móveis para uma marca inglesa.
A cômoda George III, de 1780, ou a mesa Queen
Anne, de 1730, surgindo como fantasmas de den-
tro de formas retilíneas supercontemporâneas.
Que emoções você provoca com esses trabalhos?
A cômoda George e a mesa Anne são uma fusão de
formas clássicas e contemporâneas. Escondidas sob cortes
retilíneos, são fantasmas do passado, como se com o tem-
po a erosão revelasse um fóssil. Para produzir esse efei-
to, essas peças foram feitas com avançado equipamento
digital. Com elas eu quis, ao mesmo tempo, lembrar o
passado e abraçar o futuro.
A inspiração para o Armário Estufa veio do filme
“Crônicas de Nárnia”. O que mais inspira você?
A série Brodgar quer recuperar técnicas e formas ar-
tesanais tradicionais para um público moderno. O tra-
balho em palha foi inspirado na cadeira Orkney com
o encosto em curva para proteger das correntes de
vento. Armários estufas eram tradicionalmente peças
sem a parte de trás, colocados diante do fogo e usa-
dos para manter itens como pão ou linho aquecidos.
Meus tios compraram um armário estufa georgiano
num mercado de antiguidades e essa foi a inspiração
para a forma.
Qual foi o maior desafio de sua parceria com
Zaha Hadid no Wish List Project?
O briefing do projeto era muito aberto e eu tive total
liberdade, mas queria aproveitar para usar a avançada
tecnologia digital utilizada por Zaha Hadid em sua ar-
quitetura. Os vasos foram desenhados e, em seguida,
finalizados no computador. Não houve modelagem ou
nenhum estágio de preparação do modelo, processos
O projeto Wish List, que seria uma mesa, na
encomenda original de Zaha Hadid