A
ntes que alguém pense nos logos irreverentes e
mascotes simpáticos, é bom saber que a missão de
conectar povos e culturas diferentes vai além. Se es-
ses símbolos mais conhecidos são os anfitriões do evento,
quem coloca ordem na casa são os pictogramas, pequenas
ilustrações que, como ícones de um computador, conectam
os esportes, as instalações e o público – e a cada edição, se
superam na criatividade.
“O momento do gol, do chute, do salto. O pictograma é
aquilo que qualquer um olha, identifica o esporte e sente”,
explica Dalcácio Reis, gerente de design da Rio 2016. Até
chegar ao momento decisivo ao qual Reis se refere, foram
muitos anos de erros e acertos na história do design dos
Jogos – incluindo tentativas arbitrárias, que tiveram início
na Berlim nazista de 1936. Ali, o elemento gráfico conector
entre os esportes era um círculo alusivo ao regime.
Tóquio apresentou ao mundo a função da linguagem
simbólica. Em 1964, o Ocidente se virava para o Japão.
Os conceitos da pictografia se materializaram pela famí-
lia de ícones do designer Yoshiro Yamashita que, na bus-
ca por clareza, substituiu as bolas de futebol e raquetes
de tênis pelos atletas em ação, na identificação à qual
Dalcácio se referia.
A necessidade fez os japoneses irem além, dando ícones
aos serviços como emergência e bancos. “Foram os primei-
ros símbolos bem-sucedidos, com certa coerência entre os
elementos”, explica Carlos Rosa, autor do livro Pictografia
Olímpica: história e estilo gráfico.
Nas edições seguintes das olimpíadas, nem todos segui-
ram a fórmula, até que o designer alemão Otl Aicher bateu
o martelo. Se o seu país já não era a potência esportiva que
permaneceu invicta entre 1896 e 1952, entrou na história
dos Jogos de 1972 com um dos maiores marcos do design.
“Tóquio decretou a necessidade dessa simbologia, e os de-
signers entenderam que era fundamental compor uma fa-
mília de pictogramas. Mas faltava o paradigma, a repetição,
e bastava olhar dois ícones de Aicher para entender que ele
estava criando algo universal”, aponta Rosa.
Naquele ano, uma ginástica matemática dava novos mo-
vimentos à pictografia. Na origem dos desenhos, era uma
malha-base de ângulos bem definidos, criando um padrão
para os símbolos olímpicos que dispensava interferências es-
téticas. “Foram os únicos pictogramas da história a se repe-
tir por duas vezes, em Montreal, 1976, e em Calgary, 1988.
Mas, durante as duas décadas seguintes, ainda notamos a
influência de Munique em todas os sistemas”, diz Rosa.
Pictogramas em evolução da Olimpíada de
Londres, em 2012 e, à direita, os míticos gráfi-
cos da Olimpíada de Munique, em 1972
(Reprodução)
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GRAFISMO