COR, CALOR,
SABOR,
DECORAÇÃO
Brilho na aparência e no paladar,
calores nas cores e na gastronomia,
a pimenta enche a boca e os olhos
do mundo em um espetáculo de
design que já dura meio milênio
P EDRO ME L LO E SOUZ A
H
á um certo prazer em quem prepara os ingredientes e, tal como na cozinha de um grande chef,
os separa, antecipando a intensidade do prato. Há beleza nos alimentos. Há cor, brilho, forma e
a promessa de um paladar satisfeito. Mas e quando há pimentas envolvidas? Aí, o patamar da
recompensa é superior. Uma bela pimenta, daquelas vermelhas, do tipo malagueta, de um vermelho
que só os criativos da Ferrari conseguem reproduzir, é digna de uma foto pronta para ser batida, de um
quadro pedindo para ser pintado. Pimenta é design.
Mas o caminho até a beleza de nossa gastronomia foi longo. Aqueles frutos longos, estranhos na sua
aparência envernizada, caíram no crivo do clero, quando chegaram ao Velho Mundo, na marcha dos
descobrimentos e da cortina de sentidos que a América desconhecida ainda abria. Foram proibidos
lá, mas no México, de onde vinham as primeiras mudas, era ingrediente fundamental do ‘xocoatl’, a
chamada “bebida dos deuses”, exclusividade dos monarcas astecas. Mas era planta atraente demais e a
pimenta criou suas raízes na Europa, antes pelo aspecto decorativo, só depois pelo aspecto gustativo.
MAGAZINE CASASHOPPING
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