

esculturas de Bruno Giorgi. Contemplamos os
brise-soleils
, devidamente restaurados com fibro-
cimento e funcionando. Lúcio Costa fazia questão
de fiscalizá-los pessoalmente para ver se estavam
sendo bem usados. O prédio tem 36 relógios, dois
por andar, comandados por pulso elétrico a partir
de um relógio de comando.
Na época, a escolha das esculturas para cada
espaço envolveu discussões profundas. A está-
tua de um gigante representando o homem
brasileiro, que seria colocada na entrada, nunca
chegou a se concretizar. Em tempos de nazismo
em defesa da raça pura, o tema era delicado e
foi difícil, para Capanema, depois de consultar
o historiador Oliveira Viana e o médico Rocha
Vaz, chegar a um consenso do que representaria
melhor a mestiçagem do povo brasileiro.
Em relação à imagem feminina, prevaleceu sobre
o estereótipo mãe de família a sensualidade mes-
tiça nas esculturas “A mulher reclinada”, “A mãe”
e “A mulher de cócoras” de Celso Antônio. A ala
boêmia dos intelectuais participantes do projeto
defendeu com veemência a mistura racial com
direito a esboços de mulatas feitos por Niemeyer
e Di Cavalcanti.
Sobre uma das esculturas de Celso Antônio,
Carlos Drummond de Andrade, chefe de gabinete
de Capanema, que acabara de chegar no novo
escritório, escreveu no diário: “Das amplas vidraças
do décimo andar descortina-se a baía vencendo a
massa cinzenta dos edifícios. Lá embaixo, no jar-
dim suspenso do ministério, a estátua da mulher
nua de Celso Antônio, reclinada, conserva entre
o ventre e as coxas um pouco de água da última
chuva, que os passarinhos vêm beber, e é uma
graça a conversão do sexo de granito em fonte
natural. Utilidade imprevista das obras de arte”.
Ministro da educação e saúde que mais
tempo permaneceu no cargo (de 1934 a 1945),
Gustavo Capanema criou o Serviço Nacional de
Aprendizagem Industrial (Senai) com o empresa-
riado. Em pleno Estado Novo, conseguiu mobilizar
os mais importantes artistas da época na criação
do MESP. Mineiro de Pitangui, desde os tempos da
universidade de direito em Belo Horizonte fez parte
do grupo de intelectuais da Rua da Bahia, entre
eles, Abgard Renault, Milton Campos e Carlos
Drummond de Andrade. Sempre cultivou o bom
Acima, “A mulher deitada”, de Celso Antonio. À esquerda
o edifício em construção que durou de 1937 a 1944
Foto: Marcio Irala
Fotos: Arquivo Central do Iphan
MAGAZINE CASASHOPPING
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