

relacionamento com esses amigos, o que, de certa
forma, permitiu que houvesse o engajamento da
elite intelectual na construção do Palácio.
Professor titular da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, arquiteto e pesquisador, Carlos
Eduardo Comas explica a importância do MESP
(Ministério de Educação e Saúde) como um dos
marcos inaugurais de uma escola brasileira de
arquitetura moderna baseada no Rio, notável em
quatro pontos. “Formalmente, por conjugar tanto
geometrias retilíneas (como a das lajes de cobertura
da galeria de exposições) e curvilíneas (como a abó-
bada do auditório) quanto abstração e figuração (as
caixas d’água, que parecem chaminés de navio, e
os restaurantes na cobertura do bloco de escritó-
rios, que parecem cabina), mostrando-se inclusivo
e diverso. Tipologicamente, pela conjugação de
praça e edifício poroso, vazado, gerando uma nova
dimensão de espacialidade pública, que remete
ao mesmo tempo à tradição (como o Palácio dos
Governadores, na frente da Praça de Ouro Preto).
Tecnicamente, por seu pioneirismo no âmbito do
projeto de estruturas de concreto armado e ele-
mentos de proteção solar; é o primeiro edifício de
escritórios que se pode dizer formalmente moderno
– o Rockefeller Center é mais antigo,
porém está mais para
Art Déco
– ao
mesmo tempo que atualiza as estruturas
de madeira e dos muxarabis das velhas
construções coloniais. Simbolicamente,
por mostrar que um edifício representa-
tivo pode ser monumental sem grandilo-
quência, sem tom de discurso”.
Para o professor, em termos de história
política, o Palácio Gustavo Capanema
representa
uma
intelectualidade,
incluindo Capanema e o próprio Getúlio,
que queria concretizar uma modernidade
baseada na indústria, mas pautada na tra-
dição. “E ao mesmo tempo afirmar uma
nacionalidade em construção dentro do
conceito da cultura ocidental. Ordem e
progresso!”, diz o pesquisador.
Houve um concurso para escolher a
concepção arquitetônica do Palácio.
O projeto vencedor de Archimedes
Memória acabou não sendo usado.
Quem assumiu a obra foi Lúcio Costa.
Segundo Carlos Eduardo Comas, não há
grande arquitetura sem grande patrono.
“Capanema sabia bem o que queria,
tanto um edifício de escritórios tecni-
camente avançado, quanto um monu-
mento moderno. Recusou o projeto de
Memória –
Art Déco
com decoração neo-
-marajoara – após receber vários relató-
rios que criticavam a sua funcionalidade,
pagou o prêmio e partiu para outro enca-
minhamento. Defendeu o projeto das crí-
ticas do público e de adversários dentro
do governo”, lembra o professor.
Afresco “Jogos Infantis”, de Portinari
Destaque para as caixas d’água no topo que parecem chaminés de navio
Foto: Marcio Irala
Foto: Oscar Liberal/ Iphan
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