

O ‘Tremendão’
e as roupas
na geladeira
Luiz chegou a bater à porta de costureiros como Hugo
Rocha, mas viu que o futuro estava numa coisa chamada
butique. “Apareceram o José Luiz Itajahy, da Bibba, a
Mariazinha (hoje Mara Mac) e várias outras. A dona de
uma dessas butiques em Copacabana ligava para mim de
Paris e dizia: “‘Tremendão’, estou indo amanhã. Você vai
para minha loja cedo, leva seus modelos, estou levando
os meus daqui”.
Carregado de sacolas, ele pegava três ônibus. “Quando
eu chegava, ela botava as roupas na geladeira para gelar e
vender como francesas. Dizia para as clientes que estavam
frias da bagagem do avião. Tinha que ser criativo!”, se
diverte Luiz de Freitas que continua,“o atacado nasceu
conosco, não tínhamos nem tempo para varejo”.
A televisão com as novelas, as revistas e os jornais foram
fundamentais para divulgar o que estava acontecendo.
E, nesse processo, a experiência de José Augusto Bicalho
na mídia foi pioneira. Ele se tornou um dos maiores
talentos criativos, quando ilustrava as páginas de moda
do Caderno Ela, de O Globo, na ocasião editado por Nina
Chavs. Quando começou a ver, nas vitrines, cópias dos
seus desenhos, abriu uma confecção em sociedade com a
amiga Célia Marino.
“Passamos a vender para várias butiques do Rio e de
São Paulo. Ninguém tinha showroom, ninguém tinha
arara, abríamos tudo numa mesa. Meu companheiro
e sócio José Taranto comprava os tecidos com cara de
antigos e tinturávamos para ficar parecendo com os
vestidos da Biba de Londres”, lembra.
José Augusto teve a ideia dos grandes desfiles, quando
fazia uma de suas coberturas da temporada de moda em
Paris para o jornal O Globo. “No Palácio do Congresso
assisti à apresentação de vários novos estilistas numa só
noite. Pensei, por que não fazemos o mesmo no Brasil?
Lá, as modelos desfilavam sem muita alegoria. Nós
inventamos aquele teatro para dar tempo de as moças se
trocarem”, diz José Augusto.
Eram poucas modelos, mas não havia padrão, então era
muito difícil vestir um grupo, segundo ele. “Betty Lago era
alta, mas calçava 35, Fátima Osório era a que melhor vestia,
Veluma tinha um pé 40. Uma tinha busto demais, outra
de menos. Para José Augusto, foi uma tentativa de chegar
ao auge.“A moda carioca influenciou o resto do Brasil.
Inventamos o Grupo Moda Rio e tempos depois surgiu o
Núcleo de Moda de SP e o Grupo Mineiro de Moda.
No alto, Ana Gasparini e Ricardo Castro, da Movie.
De turbante, Carla Roberto com Cristina e Paulo Cesar
Buchi na inauguração da sua loja em dezembro de 1985.
Nora Sabbá, da Spy & Great, cercada pelas modelos
MAGAZINE CASASHOPPING
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