– Chef, chegou o arquiteto!
– Ah, meu São Lourenço, protetor das cozinhas e
cozinheiros, me dê paciência...
– Boa tarde. Eu ouvi o final da conversa, creio ter
a solução. O senhor deveria fazer um cardápio todo
inspirado na cultuada Cidade Branca de Tel Aviv,
Israel, onde está um dos maiores espólios da arqui-
tetura da Bauhaus e hoje faz parte do Patrimônio
Mundial. Um cardápio todo branco, e...
– Pare! Pode parar. Um cardápio todo branco?
– Sim. Qual o problema?
– Olha, nem São Lourenço me ajuda nessa con-
fusão. Eu tenho que fazer um cardápio com carne,
ave, peixe e legumes. Você acha que eu posso servir
o quê? Arroz, cocada, palmito e mingau?
– Vou ter que concordar com o colega designer. O
senhor não está pensando de forma criativa.
– Criativo vai ser o que vou fazer com esta faca em
minutos, se vocês não saírem agora da minha cozi-
nha!! E você, se não evitar que o próximo palpiteiro
entre para outra rodada de besteiras, rebaixo você
de subchef a lavador de pratos!
– Calma, chef, calma... A asses-
sora de imprensa chegou...
– Olha aqui, dona: já vou avisando, minha
paciência esgotou com aqueles dois que saíram
correndo daqui.
– Eu cheguei faz algum tempo, ouvi e vi tudo.
Eu estava na antessala, pesquisando no celular
esta tal Bauhaus, e creio ter a ideia perfeita, a
solução deste problema: F E I J O A D A.
– Oi? Como? Feijoada? Eles comiam feijoada
na Alemanha?
– Não sei. Mas como está difícil conceituar seu
bufê sobre este tema, o senhor faz a feijoada,
e eu faço um release para a imprensa e para os
clientes dizendo que foi feita uma leitura antro-
pofágica da escola Bauhaus, interpretada atra-
vés dos preceitos da semana de Arte de 1922.
Simples... Eu só substituiria o paio português da
receita original por um embutido alemão – para
dar mais credibilidade ao
storytelling
, se me
permite um palpite?
– Uhn...é uma ideia doida, mas... eu posso
fazer caipirinhas com Jägermeister, no lugar da
cachaça...faço um repolho refogado no lugar
da couve para remeter ao chucrute... um bolo
Floresta Negra de banana para juntar estas
histórias... Sim! Sim! Pode dar certo! Você é
genial! Está contratada, você me trouxe a luz
necessária para este problema.
– Que bom que o senhor gostou dela, chef...
– Gostei. Gostei muito. Aliás, gostei tanto, que
não preciso mais de seus serviços.
Au revoir
. Ou
melhor – como diriam na escola Bauhaus –,
auf
wiedersehen
!
MAGAZINE CASASHOPPING
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