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moda
Soluções em andamento: as antecipações de entrega
adiantaram pouco. Todas as marcas e designers começa-
ram a investir em mais coleções. As temporadas de resort
ou
cruise collection
fazem sucesso, são as que mais ven-
dem, segundo os marketings da Chanel e Dior. Porque
são lançamentos mais fechados, priorizam compradores e
as listas nas portas privilegiam poucos convidados.
E para atender à ânsia das consumidoras começou
a surgir o movimento
See Now, Buy Now
(veja agora,
compre agora, em inglês), já conhecido como SNBN. Mal
acaba o desfile ou a apresentação, as
fashion addicts
po-
dem correr para o
backstage
, para o e-commerce ou para
as lojas da marca para comprar suas peças-desejo.
O começo tímido incluía acessórios, principalmente
bolsas. Algumas camisetas, como fez Marc Jacobs. Uma
estratégia que durou pouco foi permitir que as clientes
escolhessem as peças cobiçadas antes de irem para as
lojas. Não conseguiam esperar, tem que ser já! Mesmo ti-
midamente, deu para balançar as estruturas das semanas
de moda e botar em discussão o formato dos lançamen-
tos. Desfile seria um acontecimento superado? A moda,
como conhecemos, estava acabada?
Até março deste ano, apenas a Chambre Syndicale da
moda de Paris recusou modificar a organização das suas
semanas. Em Milão, Londres e Nova York, a ideia do
SNBN ganha terreno. Isto é, passarelas.
E veio a grande mudança: se era preciso alguma ação
efetiva para sacudir os conceitos tradicionais da moda,
um desfile arrasou nos lançamentos de inverno. Em Nova
York, o rapper Kanye West, que se considera a pessoa
mais influente do planeta, casado com Kim Kardashian
(esta sim, põe influente nisto), mostrou a segunda cole-
ção da Yeezy, marca que assina para a Adidas.
Simplesmente vestiu um casting de dezenas de modelos
negros, mulatos, asiáticos, latinos com peças de mole-
tom, malha, jeans, tudo meio solto, detonado, em tons
do branco aos terrosos e pretos. Um jeito
street
, atitudes
sombrias. Jessica Tridale, editora do WWD (Woman´s
Wear Daily, em versões impressas e digital), chegou a co-
mentar que o conjunto lembrava as fotos de campos de
refugiados. Não satisfeito com este antiglamour, Kanye
acrescentou à moda o lançamento ao vivo do álbum
novo,
The Life of Pablo.
Pensam que acabou? Claro que havia moletons, cami-
setas e
hoodies
à venda, na hora. E o toque final, o golpe
fatal no conceito das semanas de moda: o agito foi no
Madison Square Garden, o estádio novaiorquino com
capacidade para mais de 18 mil pessoas. Detalhe: além
da plateia profissional, o desfile foi visto por um públi-
co de varejo, que pagou em torno de 230 dólares para
assistir. Mesmo que não tenha lotado o estádio, o desfile
da Yeezy, conjugado com a Listening Party, que é como
os novaiorquinos chamam os eventos em que os músicos
lançam seus álbuns ao vivo, como um show.
Moda fácil de entender, rápida de comprar, música pop,
celebridades e, ainda por cima, aberta ao público: uma
fórmula que sinaliza um novo caminho para a moda.
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MAGAZINE CASASHOPPING
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Kanye West e a mulher Kim Kardashian: moda e música
em lançamentos simultâneos.