

No ano em que Eça de Queirós, maior expressão
do realismo português, lança “Os Maias”, em 1888,
Portugal vê nascer outro grande gênio: Fernando
Pessoa, ícone-mor do modernismo, que revelou
também Mario de Sá Carneiro, morto aos 26 anos,
envenenado por estricnina. Autor de clássicos, como
“Mensagem” e “Livro do Desassossego”, Pessoa
é festejado por grandes filósofos do século XX, a
exemplo do francês Alain Badiou. “Pessoa demonstrou
que a subjetividade é maior que a individualidade. Seus
heterônimos mostram que vários sujeitos podem caber
num único indivíduo”, explica Luis.
Outros autores ibéricos se tornaram expoentes da
literatura mundial no decorrer do século XX. Crítico
contundente da Igreja Católica, José Saramago foi o
vencedor do Nobel de Literatura em 1998. Um dos seus
maiores clássicos, “Ensaio sobre a Cegueira”, ganhou
versão cinematográfica, numa produção hollywoodiana
dirigida por Fernando Meirelles. Camilo José Cela, autor
do romance espanhol mais traduzido depois de “Dom
Quixote – A Família de Pascual Duarte”, de 1942 – foi
também laureado pela Academia Sueca, em 1989.
Nos anos 1930, Cela lutou na Guerra Civil
espanhola, ao lado do exército de Francisco Franco.
Mas em 1951 teve um de seus principais livros, “A
Colmeia”, proibido na Espanha, então governada
com mãos de ferro pelo ditador. A Guerra Civil, aliás,
deixou marcas profundas na literatura. Em 1936,
Federico García Lorca foi executado por fascistas em
Granada. Ana Maria Matute foi censurada por insistir
em temas inconvenientes, como violência, alienação
e perda da inocência. Na Portugal de Salazar, as
mulheres também tiveram atuação proeminente no
combate à ditadura. Escrita a seis mãos por Maria
Velho da Costa, Maria Teresa Horta e Maria Ondina
Braga, “Novas Cartas Portuguesas” causou enorme
rebuliço em 1972, ao escancarar a repressão e o
abuso de poder do patriarcado católico no país,
tornando-se um marco do feminismo.
Mas, depois de tantas andanças e aventuras pelo mar,
qual foi o destino da literatura ibérica? Em Portugal,
nomes como Adília Lopes e Miguel de Souza Tavares
se juntam a destaques da nova geração, entre eles Inês
Dias e Matilde Campilho, que repensam a experiência
na cidade, e Madalena de Castro Campos, que vem
chamando a atenção com versos iconoclastas, de
afirmação feminina. Da Espanha vêm os talentos de
Javier Cuencas, Almudena Grandes, María Dueñas e
Rosa Montero. E o futuro? Parafraseando Pessoa: não
sabemos o que o amanhã trará.
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