

tamanho
joie de vivre
que era impossível não se
sentir especial ao participar desses encontros.
E,
last but not least
, as reuniões
chez
Titá
Burlamaqui. Alguém deveria fazer um livro a res-
peito, tamanho preciosismo em todos os detalhes.
Primeiro, era uma sequência de canapés de enlou-
quecer, nunca mais vou me esquecer das patinhas
de caranguejo e de um canapé encimado por um
perfeito ovo de codorna – quando o ovo não osten-
tava o status que hoje carrega. Era tanto canapé,
tanta variação, que recebeu um comentário desas-
troso de famosa jornalista na época (da qual Titá
não perdoou, com razão). E depois... a mesa era
sempre em cima de um tema, a bebida era absur-
damente farta, os almoços duravam horas, os jan-
tares varavam madrugada, e ainda tinha uma torta
de banana caramelada que parecia de brinquedo,
tamanha precisão na colocação das rodelinhas de
banana. Titá tinha história, conheceu muito, mui-
tos, era divertida. Em dados momentos, o papo
parecia ter sido tirado de um pedaço do filme “All
about Eve”, pois ela era ferina, deliciosamente
ferina, e tinha uma legião de fiéis (como este que
vos escreve) de tal forma que ninguém queria ser o
último a sair, todos queriam aproveitar ao máximo
aqueles momentos, orquestrados à maestria por
uma mulher pequena e de mãos frágeis.
Essa lista poderia ter mais e mais dicas dos sabores
tipicamente cariocas, poderia versar horas sobre a
perfeição de alguns pratos, de lugares desconhe-
cidos ou dos grandes chefes e restaurantes, mas,
para mim, o melhor da gastronomia carioca é O
CARIOCA. É esse elemento que consegue transfor-
mar o banal em descolado, o impecável em divino,
o cotidiano em ímpar. E esse tempero, esse condi-
mento impalpável, é o que coloca a gastronomia
carioca em um lugar especial.
tir especial. Esse é um sabor característico carioca,
dentro de meus ditames.
E tinha a casa dos amigos, que sempre me pro-
porcionaram o melhor do que se pode encon-
trar no Rio, em termos de comida. Dos almoços
deliciosos na varanda de Guilherme Scheliga, aos
jantares de grande fundamento etílico na casa do
Chicô Gouvea, as feéricas refeições nos domínios de
Janete Costa (onde comi uma espécie de vatapá de
siri que até hoje me emociona), dos deliciosos janta-
res na casa do Edgar Moura Brasil, sempre divertidos
e com assuntos únicos, dos pastéis da casa de Ruth
Almeida Prado (onde conheci o ator francês Vincent
Cassel, arranhando um português bem compreensí-
vel), as reuniões deliciosamente malucas na casa do
Maranhão – esses momentos misturavam o melhor
do espírito carioca: amigos alegres, comida e bebida
farta, a vista do mar ou da montanha, a música
certa, o papo que nunca acabava, a sensação de
estar vivendo o melhor naquele momento.
Mas tenho que destacar dois lugares que me sem-
pre proporcionaram, a mim e a quem participava
dessas festas babettianas, a quintessência do espí-
rito carioca em termos de receber. Primeiro, os janta-
res e almoços libaneses proporcionados por minha
querida amiga Edith Farjalla. Nunca mais estive em
jantares como esses, com tanta gente legal e inteli-
gente, serviço perfeito, casa florida e perfumada, a
Lagoa vista do alto, a perfeição em todos os senti-
dos: só tinha gente muito interessante, em primeiro
lugar. Sempre quis saber como ela conseguia uma
química tão grande entre as pessoas e tornei-me
amigos de vários desses ao longo dos anos, graças
a essas reuniões. Existe coisa melhor do que comer
muitíssimo bem na casa de alguém que adora e
ainda sair com um amigo novo? É uma equação
que poucos saberiam decidir, e Edith fazia isso com
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